vida e saúde

Criança nasce racista?


Já falei sobre racismo, mas uma pergunta que ouvi de uma criança de 8 anos e 7 meses me colocou no tema novamente. O questionamento foi o seguinte:
- Mãe, pai, o que é racismo?

Após contextualizar que as pessoas têm origens ou características físicas diferentes, como a cor da pele, o formato do olho, etc e o racismo acontece quando são tratadas de forma diferente por isso e que ele se dá por meio de frases e ações que fazem a outra pessoa se sentir inferior, mais feia, mais burra, menos capaz, menos importante, menos relevantes, surgiu outro questionamento:
- Então, quando chamam alguém de gordo estão sendo racistas?

A gente retoma o diálogo e explica novamente. Por fim, recorro a um vídeo muito legal que havia visto recentemente, compartilhado no Facebook, pesquisei depois no you tube e encontrei uma publicação de 2016, com o título DNA: Quem você realmente é?

O vídeo junta uma série de pessoas de diferentes origens e características físicas. No começo, elas falam sobre si próprias, se definem como patriotas, amantes de seu povo e país de origem, diziam-se 100% da origem tal. Após isso, respondem a seguinte pergunta: "Pense em outros países e a nacionalidades do mundo, tem algum que você não gosta ou que não vai gostar?"

As resposta são variadas, revelam não gostavam de alemães, dos turcos, indianos, paquistaneses, etc. Então, todos são convidados a cuspir num copo e através da secreção seria avaliado o DNA de cada um.

Duas semanas, os participantes depois voltam para receber o resultado.

O inglês que não gosta do alemão, tem 5% de seu DNA alemão. E outros sucessivamente que falaram que não gostavam de tal nacionalidade, acabam tendo relação com elas em seu próprio DNA. E a emoção toma conta de todo o ambiente formado por pessoas das mais diferentes partes do mundo.

Após olhar vídeo, pergunto para a criança de 8 anos e 7 meses se ela compreendeu o que era racismo. A pequena balança a cabeça afirmativamente e sai da sala. Sigo matutando sobre o assunto. Sozinha com meus pensamentos. Recordo de uma amiga que contava coisas absurdas que ouvia no colégio como "caiu num pote de piche", "cabelo bombril", e os relatos dela tentando alisar o cabelo com um ferro de passar roupas, do choro escondido.

Tem um senhor no trabalho que me chama de "branca", nunca pelo meu nome, e assim se refere a todos os outros que não tem a mesma cor da pele dele. Não me incomoda, mas me faz pensar em quantas se referiram a ele como "preto" ou "negro", e não pelo seu nome de registro.

O tema racismo seguiu surgindo no meu dia a dia. Aleatoriamente, num momento tão estimado de ócio, vi um filme muito bacana, baseados em fatos reais, na Netflix, o título era Escritores da Liberdade (Freedom Writers), de 2007.


Escolhi o filme sem saber que tinha ligação com racismo em Los Angeles, nos Estados Unidos, mostrando o trabalho de uma professora que modificou a vida de adolescentes americanos nos anos 1990. A classe era uma mistura de Afro-americanos, de Latinos, de Cambojanos, de vietnamitas, entre outros, muitos dos quais cresceram em vizinhanças agressivas e participavam de gangues de rua em Long Beach.

A professora, além de um método de ensino diferenciado, os levou a vivências e reflexões que mudaram suas vidas. No filme, baseado em fatos reais, a professora Erin Gruwell consegue proporcionar um um encontro de seus alunos com Miep Gies, a secretária que escondeu Anne Frank - que foi uma adolescente alemã de origem judaica, vítima do Holocausto na Segunda Guerra Mundial, e se tornou reconhecida mundialmente após a publicação do Diário de Anne Frank.

O livro publicado pelo pai dela após a guerra é o diário que Anne escreveu enquanto morou por pouco mais de dois anos em um sótão em Amsterdã com a família e outras quatro pessoas que acabaram sendo descobertos quase no fim da guerra. Ela e a irmão foram levadas a um campo de concentração em Bergen-Besen onde morreram provavelmente de tifo, em 1945.

No filme, Miep encontra os alunos de Erin depois que eles levantaram dinheiro suficiente para levá-la de Amsterdã até os EUA, e dá um depoimento emocionante sobre o holocausto e a ação das pessoas em "fazer o que é certo" mesmo em situações complicadas. Ela chegou a ver o lançamento do filme, em fevereiro de 2007, aos 98 anos de idade.

Voltado ao filme, a maioria dos alunos retomou a confiança e si mesmo e foi o primeiro integrante da família que se formou em uma universidade - e começaram a se enxergarem como gente, independentemente da cor da pele, formato dos olhos, nariz, reconhecendo valores como tolerância e respeito ao próximo.

Passaram-se alguns dias e volto a observar a pequena no tema racismo. Concluo um fato que sempre acreditei e a vida vem a reforçar a minha convicção: racismo não está no DNA das crianças, em outras palavras, ninguém nasce, mas pode virar racista.

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